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Teles vendem computadores para incentivar banda larga
Para estimular banda larga, teles vendem computadores
Talita Moreira e Gustavo Brigatto
A Net Serviços, operadora de TV por assinatura, banda larga e telefonia, está fazendo testes no varejo para começar a vender computadores - a exemplo do que a Telmex, sua acionista, faz no México. Esse é o caso mais recente de um movimento que começa a ganhar força no mercado e tem tudo para deslanchar nos próximos anos: as vendas de PCs por meio das empresas de telecomunicações.
Operadoras de telefonia móvel como TIM, Claro e Vivo também já vendem alguns modelos de notebooks e netbooks em parceria com fabricantes tradicionais do setor, repetindo a fórmula que ajudou, e muito, a expandir o mercado de celulares no país. Em alguns casos, o preço do equipamento é subsidiado. Em outros, o assinante adquire o PC e leva para casa um desconto no serviço de banda larga - que é, no fim das contas, o foco de promoção das teles.
"É um movimento natural. As pessoas estão buscando o computador portátil. Faz sentido que ele esteja conectado em banda larga", afirma o diretor de desenvolvimento de terminais da Vivo, Hilton Mendes. "São duas indústrias que se somam."
A Vivo fechou acordos com a LG e com a Positivo para vender netbooks (computadores ultraportáteis) que já chegam às lojas equipados com um chip para o acesso à internet móvel por meio da rede de terceira geração (3G) da operadora. Ao comprar o modelo da Positivo, o consumidor pode experimentar o serviço gratuitamente durante três meses.
A TIM optou por outro caminho: o assinante que aderir a um pacote de internet ganha desconto de R$ 400 na compra de um netbook HP, que sai por R$ 1,7 mil. A operadora tem em seu portfólio dois notebooks e um ultraportátil da HP, além de um netbook da Acer. Em todos os casos, a empresa de telefonia negociou com os fabricantes para vender os produtos com exclusividade por seis meses. "A intenção não é competir com as lojas de informática, mas oferecer um pacote exclusivo para o consumidor", explica Leopoldo Tranquilli, gerente-executivo sênior da área de criação de serviços e gerenciamento de aparelhos da TIM.
Até o fim do ano, a Claro deve começar a vender um netbook equipado com modem 3G, a preços subsidiados. A operadora já tem parceria com a Microboard para vender notebooks.
Segundo projeção da empresa de pesquisas Yankee Group, em 2012 o mercado brasileiro terá 6,8 milhões de computadores portáteis com modem 3G embutido. A venda de PCs equipados com o chip de alguma operadora é apenas um retrato parcial desse cenário.
As teles móveis e fixas reúnem características que podem, dentro de poucos anos, torná-las canais relevantes para a venda de PCs. As operadoras têm ampla base de clientes - há 162 milhões de celulares habilitados e 41,6 milhões de linhas fixas no Brasil -, uma ampla rede de distribuição no território nacional e grande poder de barganha com os fabricantes. Para completar, têm grande interesse em gerar demanda para as conexões de banda larga que oferecem.
Esses atributos fizeram da Telmex, operadora de telefonia fixa controlada pelo bilionário Carlos Slim, a maior vendedora de computadores do México. Em dez anos, a empresa comercializou 2 milhões de PCs, financiados em até 48 prestações cobradas na fatura do telefone. É um número relevante para o mercado mexicano e que serve de inspiração para a Net, empresa que tem participação acionária do grupo.
Sem fornecer detalhes sobre as parcerias que a empresa está costurando no varejo, o vice-presidente de marketing e vendas da Net, Eduardo Aspesi, afirma que a a distribuição de PCs vai ao encontro da estratégia de oferecer ao assinante tudo aquilo de que necessita para se conectar. "Queremos ser a melhor opção para a casa do cliente", diz.
Quem ainda não entrou nesse negócio cogita a possibilidade. A Telefônica está desenhando um novo plano para vender computadores, depois de ter testado, em 2005, um modelo que não deu certo. A operadora também tem um programa, por meio do qual aluga PCs para pequenas e médias empresas, com 100 mil clientes.
"Temos visto um crescimento interessante da oferta de pacotes que incluem PC e banda larga. É sempre uma forma interessante de aumentar o número de conexões de internet", afirma Júlio Püschel, analista sênior do Yankee Group.
As operadoras sabem que o preço do PC - embora tenha caído nos últimos anos - ainda é uma grande barreira para a venda de novos acessos de internet. Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet, o custo elevado é a principal razão apontada por 74% dos domicílios das áreas urbanas brasileiras que ainda não têm computador.
Por enquanto, os PCs "empacotados" com serviços das operadoras são uma novidade para os consumidores. A maioria das vendas é feita nas lojas de informática e não nos canais próprios das teles, diferentemente do que ocorre com os aparelhos de celular. "A operadora vai ser um covendedor. Não necessariamente esses computadores vão passar pelos nossos depósitos", afirma Mendes, da Vivo.
Também é cedo para saber se as operadoras brasileiras vão repetir na mesma extensão os subsídios concedidos aos celulares, muitas vezes distribuídos gratuitamente.
Nos Estados Unidos, isso já está acontecendo. A operadora Verizon oferece, sem custos, um netbook ao assinante que aderir a determinado plano de serviços. Tranquilli, da TIM, pondera que no mercado americano as teles podem firmar contratos de fidelidade de até 24 meses com o assinante, enquanto no Brasil o limite imposto pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é de 12 meses. Isso significa que as teles americanas têm mais tempo para recuperar o investimento feito no cliente.
Além disso, os aparelhos de celular abrem mais possibilidades de receitas para as operadoras - ligações telefônicas, mensagens de texto etc. -, ao passo que nos computadores a única fonte de recursos vem do pacote de dados.
A extensão dos descontos vai depender das condições que as operadoras obtiverem com os fabricantes e se elas terão sucesso em conquistar na indústria de PCs o mesmo poder de barganha que têm com os fornecedores de celular.
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